O mundo tem evoluído rapidamente, de uma forma nunca vivenciada anteriormente, e muitas transformações vêm ocorrendo em todas os setores e segmentos da sociedade.

A influência das tecnologias, redes sociais, inteligência artificial, têm provocado grandes mudanças nas formas das crianças e adolescentes verem e interpretarem o mundo. Estas transformações, acrescidas de um momento pós pandêmico, trouxeram a necessidade de um novo modelo de Educação.  Porém, esse novo modelo educacional já vem sido pensado e exigido há tempos, o que falta é a efetiva prática.

Em 1996, por exemplo, o relatório da Unesco, intitulado “Educação: um tesouro para descobrir”, apresentou a necessidade de se incluir práticas pedagógicas voltadas para os aspectos socioemocionais ressaltando pontos relevantes como a conexão com o próximo e o engajamento em projetos coletivos para o desenvolvimento social.

Em 2014, quase duas décadas depois, o documento “Educação para cidadania global: preparando alunos para os desafios do século XXI”, também da Unesco, falou explicitamente sobre as habilidades socioemocionais e sua importância na construção de valores e atitudes para transformações sociais. Contribuindo para o fortalecimento desse ideal, diversas pesquisas científicas comprovaram a relação positiva entre a aprendizagem socioemocional e a promoção de comportamentos pró-sociais e de melhorias nos resultados acadêmicos de alunos.

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No Brasil, uma das inovações apresentadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada em 2017, é a inserção explícita da aprendizagem socioemocional entre as competências da Educação Básica. Desde então, as escolas brasileiras têm se mobilizado para incluir em seus currículos as habilidades socioemocionais.

Mas de que se trata a educação emocional?

É uma educação que tem como objetivo desenvolver nas pessoas a capacidade de manejar suas emoções, construir e manter relações saudáveis nos âmbitos pessoais e profissionais, lidar com situações complexas e conflituosas de forma equilibrada e preocupar-se com as necessidades dos outros de forma empática e altruísta. Enfim, um tipo de educação voltada para a formação da consciência e autorregulação emocional, além da comunicação eficiente, não violenta e da consciência social e cidadania. Uma forma de educar que inclua harmoniosamente o cultivo de habilidades acadêmicas, sociais, emocionais e éticas.

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Estudos recentes demonstraram que pessoas com competências socioemocionais e condutas pró-sociais mais desenvolvidas encaram a vida de forma mais positiva em relação a si mesma, o que contribui para que se tornem mais resilientes, empáticas, compassivas, confiantes em si mesmas, comprometidas com os outros e com seu desempenho escolar.

As competências socioemocionais abarcam conhecimentos (o que sei), práticas e habilidades (o que sei fazer) e atitudes (o que quero fazer). Abrangem aspectos afetivos-emocionais (como o autoconhecimento, autoconceito e autocontrole), comportamentais (como condutas pró-sociais e escolhas responsáveis) e cognitivos (como empatia e criatividade. (Damásio, 2017)

Portanto, em um mundo de crise, onde as doenças, violências e guerras, entram em nossas casas de diversas formas causando ansiedades, medos, incertezas, transtornos e a possibilidades de adoecimento mental, urgente se faz investir em políticas e práticas que valorizem o trato das emoções nas famílias, grupos socias e mais ainda nas escolas.

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Nos meus 40 anos de profissão, vi muito mais enaltação aos conteúdos acadêmicos do que à formação do ser emocional, vi também foi muita evasão, retenção, dificuldades de aprendizagem e de relacionamentos, violência, desamor à escola, conflitos entre famílias e escola, muito adoecimento mental tanto de alunos quanto de professores, o que ficou mais expressivo após a pandemia. Portanto, algo precisa mudar, enfatizando que uma coisa não elimina a outra, a emoção não elimina o cognitivo, aliás o complementa e o torna mais competente. Neste sentido, o convite é que alunos e professores aprendam a cuidar de si mesmos e uns dos outros da melhor forma possível, especialmente no que diz respeito à chamada saúde social e emocional. Por isso, pode-se considerar que a base de toda educação emocional é a compaixão: a compaixão por si mesmo (autocompaixão) e a compaixão por outros.

Então vamos lá? Tornando-nos mais compassivos e mais equilibrados emocionalmente, com certeza contribuiremos para que o futuro de toda humanidade seja, no mínimo, mais saudável.

 

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Referências:

Damásio, A. R. Mensurando habilidades socioemocionais de crianças e adolescentes: desenvolvimento e validação de uma bateria. Trends In Psychool, v.25.n. 4, p.2044, 2017. Aprendizagem para corações e mentes [livro eletrônico] : material para docentes dos anos iniciais do ensino fundamental: aprendizagem social, emocional e ética / [Centro de Ciência Contemplativa e Ética Baseada na Compaixão] ; tradução Daniel Sarmento. -- Piracicaba, SP : Gaia+, 2023.