Em 1976, Milton Nascimento e Ronaldo Bastos lançaram no álbum Geraes a canção “Menino”, uma das obras mais marcantes da música popular brasileira no período pós-ditadura. A composição, com versos intensos e profundamente simbólicos, presta homenagem ao estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, assassinado em 28 de março de 1968, no Rio de Janeiro.

A letra traz um lamento doloroso e ao mesmo tempo um chamado à resistência:

Menino
(Milton Nascimento / Ronaldo Bastos)

Quem cala sobre teu corpo
Consente na tua morte
Talhada a ferro e fogo
Nas profundezas do corte
Que a bala riscou no peito
Quem cala morre contigo
Mais morto que estás agora
Relógio no chão da praça
Batendo, avisando a hora
Que a raiva traçou
No incêndio repetindo
O brilho de teu cabelo
Quem grita vive contigo
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A música foi inspirada na tragédia ocorrida no restaurante Calabouço, no centro do Rio, onde estudantes protestavam contra o aumento no preço das refeições. Por volta das 18h daquele 28 de março, a Polícia Militar chegou para dispersar os manifestantes. Após troca de pedras e paus, os jovens se abrigaram dentro do restaurante.

Pouco depois, policiais invadiram o local. Um aspirante, comandante da tropa, disparou à queima-roupa contra o peito de Edson Luís, matando-o instantaneamente. Outro estudante, Benedito Frazão Dutra, também não resistiu aos ferimentos.

O assassinato de Edson Luís causou comoção nacional. Seu velório, realizado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, reuniu milhares de pessoas e tornou-se um dos primeiros grandes atos públicos contra a violência do regime militar.

Ao transformar o episódio em música, Milton e Bastos criaram um memorial poético e sonoro. Mais que uma homenagem, “Menino” é um grito de denúncia, reforçando que silenciar diante da injustiça é ser cúmplice dela.

Décadas depois, a canção permanece atual, lembrando que a memória de Edson Luís — e de tantos outros que tombaram na luta por democracia e direitos — não pode ser apagada.